domingo, 23 de março de 2014

O Colecionador de Lágrimas


O Colecionador de Lágrimas
Augusto Cury
Editora Planeta

"Adolf Hitler, um austríaco tosco, rude, inculto, usou técnicas sofisticadíssimas de manipulação da emoção para se agigantar no inconsciente coletivo de uma sociedade à qual não pertencia, a Alemanha. É provável que fiquemos perplexos ao passarmos pela infância e formação da personalidade do adulto que se tornou um dos maiores monstros, se não o maior sociopata da história, mas ficaremos igualmente impressionados com a complexidade da sua mente e com o magnetismo social fomentado por ele e seus asseclas. O Führer era um populista, seduzia e enganava a sociedade sem nenhum sentimento de culpa, com ideias impraticáveis para se agigantar em seu psiquismo”.

Augusto Cury


Júlio Verne, professor de história, homem culto e formador de ideias, passa a desconfiar de sua própria sanidade mental. Suas noites são assombradas por pesadelos, que o aguardam a cada fechar de olhos. Ele acorda, mas o que sente é forte demais; a dor física e mental o consomem. Seu coração dispara e o sentimento de impotência para ajudar aquelas pessoas é seu maior carrasco. Sua esposa, a tão amada Khaterine, teme por sua saúde. Ele já não parece a mesma pessoa. Fatos estranhos se seguem aos pesadelos, como se um túnel do tempo o estivesse levando até os anos que antecederam a segunda guerra mundial, e de lá, em contrapartida, trouxesse fanáticos nazistas que o perseguem na vida real. Mas o que é real? A universidade já não vê suas aulas de história, agora tão concorridas, com bons olhos. Os pesadelos lhe dão uma nova perspectiva, ele volta a ser aquele mestre instigante, que sabe que o tamanho das perguntas determina a dimensão das respostas. Sempre tivera predileção por debates, discussões, saraus, mas os anos se passaram e acabara caindo na mesmice de outros professores. Mas agora ele tinha uma nova motivação, ele precisava contribuir de alguma forma para que sociopatas como Hitler, jamais tivessem vez novamente no palco da vida e no coração da humanidade.

Augusto Cury associa romance, história, psicologia e filosofia em mais uma obra que nos faz pensar e repensar sobre nossos valores e porque somos como somos. A julgar pelo número de exemplares de seus livros vendidos aqui no Brasil, podemos manter as esperanças de que ainda existem muitas pessoas pensantes neste nosso país das desigualdades. Mais do que um simples entretenimento, os livros de Augusto Cury vão além, marcadamente ele defende uma educação que forme pensadores e não repetidores de ideias. Pena que nosso governo não pense assim, aliás não chega nem perto, pois notadamente a educação de nosso país decai a cada ano. É revoltante ver crianças desejosas de conhecimento, terem que percorrer quilômetros a pé em estradas de chão, cruzando matas e até mesmo rios, em situação de precariedade, para chegar até uma escola muitas vezes ainda mais precária, onde terão acesso ao ensino básico, apenas pela boa vontade de alguma boa alma.  De outro lado temos aquelas que não sofrem tanto para chegar até a escola, contudo a falta de investimento na infraestrutura escolar é desestimulante. Mas porque investir em conhecimento, se os ignorantes são mais bem manipuláveis? Me desculpem o desabafo, mas é a realidade que vivemos. Para quem leu ou lerá este livro, devem perceber muitas semelhanças em certas práticas adotados por Adolf Hitler e os políticos da atualidade, o que com certeza não deve ser mera coincidência. Se para ele deu certo, porque não se valerem de tais métodos? É assustador pensar que as circunstâncias certas, somadas a uma mente extremamente manipuladora, puderam refletir na vida de milhares de pessoas de forma tão desastrosa. Diante de uma sociedade a cada dia mais fria e individualista, cada vez nos distanciamos mais e num cenário assim é preocupante a possibilidade do surgimento de oportunistas manipuladores de ideias.

Abaixo seguem alguns trechos ou frases que não pude deixar de destacar do livro:


“- A tecnologia está pulsando ao nosso redor. Mas o mesmo sistema lógico-matemático que nos fez exímios construtores de produtos sequestrou nossa emoção, prostituiu nossa sensibilidade, asfixiou a maneira como encaramos e interpretamos o sofrimento humano”.

“O preconceito nasce quando não nos colocamos no lugar dos outros! Eis o câncer da humanidade”.

“Todo político é um empregado da sociedade, pago com dinheiro do contribuinte. Ter sucesso é sua obrigação e não objeto de exaltação. O político que não se posiciona como servo da sociedade, mas que se serve dela, não é digno do cargo que ocupa”.

“O pensamento, que é o instrumento básico do homo sapiens para dialogar, ouvir, escrever, debater, conhecer, é de natureza virtual. Portanto, jamais incorpora a realidade do objeto pensado. Por exemplo, tudo que pensamos sobre os outros, por mais criterioso que seja, não incorpora a realidade deles, mas é um sistema virtual que tenta defini-los, caracterizá-los, conceitualizá-los. Nem mesmo o pensamento sobre nós mesmos substancializa a realidade das nossas emoções, dos nossos conflitos, da nossa complexidade”.

“A violência não é produzida apenas pelos vilões, mas também pelos que se calam sobre ela por medo, conveniência ou indiferença”.

“A dor da humilhação é mais penetrante que a física: esta se alivia com o tempo, aquela se torna inesquecível”.


“Quem não tem nenhum tipo de medo é irresponsável. Coragem não é ausência do medo, é o controle dele”.

Abraço 
Jade

Imagem de Mariana Britto
Sigo andando a passos largos...
...sem rumo e sem destino, apenas observando o que se passa e o que passou, o conhecimento traz prazer mas também traz dor.
Jade

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