O Colecionador de Lágrimas
Augusto Cury
Editora Planeta
"Adolf
Hitler, um austríaco tosco, rude, inculto, usou técnicas sofisticadíssimas de
manipulação da emoção para se agigantar no inconsciente coletivo de uma
sociedade à qual não pertencia, a Alemanha. É provável que fiquemos perplexos
ao passarmos pela infância e formação da personalidade do adulto que se tornou
um dos maiores monstros, se não o maior sociopata da história, mas ficaremos
igualmente impressionados com a complexidade da sua mente e com o magnetismo
social fomentado por ele e seus asseclas. O Führer era um populista, seduzia e
enganava a sociedade sem nenhum sentimento de culpa, com ideias impraticáveis
para se agigantar em seu psiquismo”.
Augusto Cury
Júlio Verne, professor de
história, homem culto e formador de ideias, passa a desconfiar de sua própria
sanidade mental. Suas noites são assombradas por pesadelos, que o aguardam a
cada fechar de olhos. Ele acorda, mas o que sente é forte demais; a dor física
e mental o consomem. Seu coração dispara e o sentimento de impotência para
ajudar aquelas pessoas é seu maior carrasco. Sua esposa, a tão amada Khaterine,
teme por sua saúde. Ele já não parece a mesma pessoa. Fatos estranhos se seguem
aos pesadelos, como se um túnel do tempo o estivesse levando até os anos que
antecederam a segunda guerra mundial, e de lá, em contrapartida, trouxesse fanáticos
nazistas que o perseguem na vida real. Mas o que é real? A universidade já não
vê suas aulas de história, agora tão concorridas, com bons olhos. Os pesadelos
lhe dão uma nova perspectiva, ele volta a ser aquele mestre instigante, que
sabe que o tamanho das perguntas determina a dimensão das respostas. Sempre
tivera predileção por debates, discussões, saraus, mas os anos se passaram e
acabara caindo na mesmice de outros professores. Mas agora ele tinha uma nova
motivação, ele precisava contribuir de alguma forma para que sociopatas como
Hitler, jamais tivessem vez novamente no palco da vida e no coração da
humanidade.
Augusto Cury associa
romance, história, psicologia e filosofia em mais uma obra que nos faz pensar e
repensar sobre nossos valores e porque somos como somos. A julgar pelo número
de exemplares de seus livros vendidos aqui no Brasil, podemos manter as
esperanças de que ainda existem muitas pessoas pensantes neste nosso país das
desigualdades. Mais do que um simples entretenimento, os livros de Augusto Cury
vão além, marcadamente ele defende uma educação que forme pensadores e não
repetidores de ideias. Pena que nosso governo não pense assim, aliás não chega
nem perto, pois notadamente a educação de nosso país decai a cada ano. É revoltante
ver crianças desejosas de conhecimento, terem que percorrer quilômetros a pé em
estradas de chão, cruzando matas e até mesmo rios, em situação de precariedade,
para chegar até uma escola muitas vezes ainda mais precária, onde terão acesso
ao ensino básico, apenas pela boa vontade de alguma boa alma. De outro lado temos aquelas que não sofrem
tanto para chegar até a escola, contudo a falta de investimento na
infraestrutura escolar é desestimulante. Mas porque investir em conhecimento,
se os ignorantes são mais bem manipuláveis? Me desculpem o desabafo, mas é a
realidade que vivemos. Para quem leu ou lerá este livro, devem perceber muitas
semelhanças em certas práticas adotados por Adolf Hitler e os políticos da
atualidade, o que com certeza não deve ser mera coincidência. Se para ele deu
certo, porque não se valerem de tais métodos? É assustador pensar que as
circunstâncias certas, somadas a uma mente extremamente manipuladora, puderam
refletir na vida de milhares de pessoas de forma tão desastrosa. Diante de uma
sociedade a cada dia mais fria e individualista, cada vez nos distanciamos mais
e num cenário assim é preocupante a possibilidade do surgimento de oportunistas
manipuladores de ideias.
Abaixo seguem alguns trechos ou frases que não pude deixar de destacar do livro:
“-
A tecnologia está pulsando ao nosso redor. Mas o mesmo sistema
lógico-matemático que nos fez exímios construtores de produtos sequestrou nossa
emoção, prostituiu nossa sensibilidade, asfixiou a maneira como encaramos e
interpretamos o sofrimento humano”.
“O
preconceito nasce quando não nos colocamos no lugar dos outros! Eis o câncer da
humanidade”.
“Todo
político é um empregado da sociedade, pago com dinheiro do contribuinte. Ter
sucesso é sua obrigação e não objeto de exaltação. O político que não se
posiciona como servo da sociedade, mas que se serve dela, não é digno do cargo
que ocupa”.
“O
pensamento, que é o instrumento básico do homo sapiens para dialogar, ouvir,
escrever, debater, conhecer, é de natureza virtual. Portanto, jamais incorpora
a realidade do objeto pensado. Por exemplo, tudo que pensamos sobre os outros,
por mais criterioso que seja, não incorpora a realidade deles, mas é um sistema
virtual que tenta defini-los, caracterizá-los, conceitualizá-los. Nem mesmo o
pensamento sobre nós mesmos substancializa a realidade das nossas emoções, dos
nossos conflitos, da nossa complexidade”.
“A
violência não é produzida apenas pelos vilões, mas também pelos que se calam
sobre ela por medo, conveniência ou indiferença”.
“A
dor da humilhação é mais penetrante que a física: esta se alivia com o tempo,
aquela se torna inesquecível”.
“Quem
não tem nenhum tipo de medo é irresponsável. Coragem não é ausência do medo, é
o controle dele”.
Abraço
Jade