domingo, 21 de outubro de 2012

Madame Bovary


Pintura de Jean Honoré  Fragonard - The Reader
Madame Bovary nos traz os sonhos e amarguras de Emma Bovary. Uma jovem mulher, que  iludida pela leitura de romances açucarados, esperava encontrar no casamento aquela terra de sonhos, onde a paixão traria aventuras para sua vida simples e reclusa. Primeiro educada em um convento e depois morando isolada na fazendo de seu pai. Sua imaginação antes contida, ganha asas ao se deparar com um pretendente, no qual ela deposita as esperanças de uma reviravolta do destino. Porém logo percebe que está fadada a uma existência medíocre, vivendo ao lado de um homem sem criatividade ou ambição e que não entende as sutilezas do amor ou as amarguras que se acumulam em seu coração. Movida por estes sentimentos e na esperança de ainda ser feliz, Emma se deixa envolver pelo típico conquistador barato. Rodolphe Boulanger. Que vê nela apenas uma aventura. Entregue à paixão e todas suas implicações, Emma mergulha cada vez mais naquela relação, agindo de maneira imprudente. Paralelamente ela compromete cada vez mais a renda familiar, se endividando na compra de objetos, adornos e itens de toillete. Rodolphe, como era de se esperar, se cansa de Emma e usando de um subterfúgio qualquer a abandona à realidade. Entregue  à sua dor, Emma sofre e tenta se deixar levar por sentimentos mais elevados, mas o reencontro com um antigo amor platônico acaba por arrastá-la novamente ao adultério. Seu marido não desconfia de nada, seguindo com seu trabalho e vida de maneira prosaica, enquanto a esposa eternamente descontente, vive uma vida de enganos, que acabarão por enredar a todos de forma irreparável.

A história em si não é o que prende sua  leitura, pois o tema é bastante comum, mas sim a desenvoltura do autor, que nos  envolve com sua escrita impecável e estilo. Uma leitura que encanta pelo talento do autor e sua sensibilidade ao captar os sentimentos humanos transformando-os em palavras. Uma cena quotidiana é elevada a algo mais artístico como vemos a seguir:

"Lucia avançava, acompanhada de suas damas, com uma coroa de flores de laranjeira nos cabelos, mais pálida que o cetim branco do vestido. Emma recordava o dia de seu casamento, revendo-se em meio aos trigais, no caminho que levava à igreja. Por que não resistira, não suplicara, como a noiva no palco? Estava alegre, ao contrário, sem perceber o abismo em que se precipitava... Ah, se, no frescor de sua beleza, antes da profanação do casamento e da desilusão do adultério, ela pudesse ter colocado sua vida num coração sólido, confundindo assim a virtude, a ternura, a volúpia e o dever, jamais tão grande felicidade seria destruída. Mas essa felicidade, sem dúvida, era uma mentira imaginada pelo desespero dos desejos. Ela conhecia agora a pequenez das paixões que a arte exagerava".

Madame Bovary é um marco na história da literatura, por ser considerado o primeiro romance realista. Ao que tudo indica Flaubert não teria propriamente inventado o enredo nem os personagens, mas sim baseado-se em fatos e pessoas reais. Na época em que o livro foi escrito os romances eram considerados indecentes e corruptores, sendo proibidos às mocinhas. Em 1857, foi movido um processo contra o autor, Gustave Flaubert, perante a Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena. Flaubert foi absolvido pelos juízes, mas não pelos puritanos, que não lhe perdoariam o tratamento cru do tema: Adultério.

“O Bovarismo”
O ensaísta Jules de Gaultier propôs esse termo em dois livros sucessivos: primeiro, em Le bovarysme, la psychologie dans l’oeuvre de Flaubert (O bovarismo, a psicologia na obra de Flaubert), de 1892, e em seguida em Le bovarysme, essai sur le pouvoir d’imaginer (O bovarismo, ensaio sobre a capacidade de imaginar), de 1902: “Emma personificou essa doença original da alma humana, para a qual seu nome pode servir de rótulo, se entendermos por ‘bovarismo’ a faculdade que faz o ser humano conceber a si mesmo de outro modo que não aquele que é na verdade”. Ou seja, o bovarismo consiste em “se imaginar diferente do que se é”. Essa capacidade remete não a uma fraqueza de caráter, mas a um funcionamento psicológico, típico da espécie humana. (fonte UOL, reportagem de Sebastian Dieguez)

Vejam aqui neste trecho como isto fica bem evidenciado na personagem:


“Não importava. Ela não era feliz, jamais o fora. De onde vinha então aquela insuficiência em sua vida, aquela podridão instantânea das coisas em que ela tocava? Mas se havia em algum lugar um ser forte e belo, uma natureza valorosa, cheia ao mesmo tempo de entusiasmo e de refinamento, um coração de poeta sob a forma de anjo, lira com cordas de bronze tocando no céu epitalâmios elegíacos, por que, por acaso, não haveria de encontrar? Oh! Que impossibilidade! Nada, aliás, valia o desgosto de uma busca; tudo era mentira! Cada sorriso escondia um bocejo de aborrecimento; cada alegria, uma maldição; cada prazer, um desgosto; e os melhores beijos não deixavam nos lábios senão um desejo irrealizável de uma volúpia maior”.

Abraço
Jade



Imagem de Mariana Britto
Sigo andando a passos largos...
...sem rumo e sem destino, apenas observando o que se passa e o que passou, o conhecimento traz prazer mas também traz dor.
Jade

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