domingo, 6 de novembro de 2011

Marina

Marina

“Em maio de 1980, desapareci do mundo por uma semana. No espaço de sete dias e sete noites, ninguém soube do meu paradeiro. [...] Naquele dia, nos céus de Barcelona, o fantasma de Gaudí esculpia nuvens impossíveis sobre um céu azul que dissolvia o olhar. [...] Na época, não sabia que, cedo ou tarde, o oceano do tempo nos devolve as lembranças que enterramos nele.”


O ano é 1979 e Óscar Drai, um rapaz de quinze anos, vive sua juventude entre as paredes de um internato em Barcelona. Sempre que possível, nas horas vagas, se aventura pelas ruas explorando a cidade e experimentando uma sensação de liberdade embriagante. Normalmente seus passos acabam o guiando até uma área na época chamada de deserto de Sarriá, onde mansões senhoriais esquecidas pelo tempo e pelas pessoas desmoronam ao clamor do vento e das chuvas. Durante um desses passeios, Óscar se detém na frente de uma daquelas construções abandonadas, fascinado pelo mistério por trás daqueles jardins e esculturas, desertos cobertos de uma vegetação que crescia sem controle ou cuidados. Foi quando avistou aqueles dois olhos amarelos brilhantes, que o fitavam de forma quase hipnótica. Na boca jazia morto um pardal, que ia deixando um rastro brilhante de sangue à passagem do gato, seu algoz. Estimulado pela curiosidade, Óscar ficou intrigado com aquela aparição e ao se segurar no gradil da propriedade, percebeu que estava aberto o portão. Sem se conter mais, resolveu entrar e foi quando ouviu um som celestial que vinha de dentro da mansão. Ao entrar no local inadvertidamente, localizou a fonte daquele som maravilhoso, um gramofone. Junto dele jazia um relógio de bolso dourado. Sem pensar pegou a peça para examiná-la melhor, momento em que foi surpreendido por alguém, e sem pensar duas vezes Óscar saiu disparado em fuga, percebendo apenas quando já estava longe dali, que o relógio permanecia em sua mão. Obcecado com a ideia de ser considerado um ladrão, Óscar acaba retornando ao local, na esperança de devolver o objeto e desfazer o mal entendido. Foi então que ele conheceu Marina, ela vinha pedalando numa bicicleta quase ao mesmo tempo que ele hesitava na frente da casa. Parecia uma visão roubada de um sonho. Foi assim que ele Marina e seu pai passaram a travar uma forte amizade. Seus dias pareciam ter adquirido um colorido que não via antes. Por sugestão da nova amiga, eles vão até o cemitério de Sarriá, e observam uma dama vestida de negro sem serem vistos, enquanto ela para diante de um túmulo sem nome, onde a única inscrição na lápide é uma misteriosa borboleta negra com asas abertas. Óscar e Marina decidem segui-la e acabam entrando em uma estufa abandonada, onde encontram um álbum com uma estranha coleção de fotos. Do teto da estufa, pendem corpos mutilados que com grande alívio constatam se tratar de bonecos bizarros, mas um mal cheiro pútrido impregna o local e os dois correm em disparada, deixando para trás aquele odor maléfico. Aquela aventura que pensavam seria apenas um passatempo de uma tarde, acabaria por envolvê-los em algo muito mais assustador e além de suas imaginações. Algum tempo depois, Óscar foi surpreendido por um carregador que lhe estendia um envelope. Disse que haviam pedido que lhe entregasse. Ao questionar o homem, este mencionou uma senhora e insistiu que recebesse o envelope. Ao olhar na direção indicada pelo carregador, Óscar teve apenas tempo de vislumbrar a mesma dama misteriosa do cemitério, cujo rosto estava envolto num véu, que não lhe deixava a mostra nem um centímetro do rosto. Ao abri-lo, dentro encontrou um cartão com um nome e um endereço e no seu verso a mesma borboleta negra do túmulo sem nome. Iniciava aqui uma viagem ao passado de Mijail Kolnenick, um homem intrigante que na sua época, havia desenvolvido mecanismo revolucionário para o movimento de próteses de pernas e braços. Obcecado com seu trabalho, ninguém sonharia até onde sua genialidade o levaria, até que Óscar e Marina acabam se envolvendo a fundo na investigação de sua vida, que era rodeada de mistérios e excentricidades, acabando por descobrir o inimaginável.

Bem, nem preciso dizer que o livro é maravilhoso! Mais um trabalho marcado pela forma poética de escrever do autor Carlos Ruiz Zafón, sempre com uma aura de mistério bem dosada e que prende o leitor até o fim. Um ótimo presente para o Natal.

“O tempo faz com o corpo o que a estupidez faz com a alma – Apodrece.”
Carlos Ruiz Zafón

57ᵅ Feira do Livro de Porto Alegre


Como viram em post anterior, em Porto Alegre, nesta época, é realizada a Feira do Livro. Claro que eu não poderia deixar passar em branco, então estive lá. Me permiti mergulhar naquele universo dos livros, onde nos deixamos levar e por algumas horas esquecer da realidade, vivendo e respirando a vida dos personagens, sofrendo e rindo com eles. Como não poderia ser de outra forma, acabei comprando três livros. Dois bem atuais e um clássico. Estava aguardando ansiosa a chegada de Marina de Carlos Ruiz Zafón, um de meus escritores favoritos, e valeu a pena. Foi a primeira aquisição. Lí com avidez cada página, como se cada letra fosse uma gota de água depois de uma longa seca. Nem preciso dizer que recomendo!
Seguem algumas fotos na feira e dos livros.








Imagem de Mariana Britto
Sigo andando a passos largos...
...sem rumo e sem destino, apenas observando o que se passa e o que passou, o conhecimento traz prazer mas também traz dor.
Jade

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