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Pintura de Jean Honoré Fragonard - The Reader |
A história em si não é o que prende
sua leitura, pois o tema é bastante
comum, mas sim a desenvoltura do autor, que nos envolve com sua escrita impecável e estilo. Uma leitura que
encanta pelo talento do autor e sua sensibilidade ao captar os sentimentos
humanos transformando-os em palavras. Uma cena quotidiana é elevada a algo mais
artístico como vemos a seguir:
"Lucia avançava, acompanhada de
suas damas, com uma coroa de flores de laranjeira nos cabelos, mais pálida que
o cetim branco do vestido. Emma recordava o dia de seu casamento, revendo-se em
meio aos trigais, no caminho que levava à igreja. Por que não resistira, não
suplicara, como a noiva no palco? Estava alegre, ao contrário, sem perceber o
abismo em que se precipitava... Ah, se, no frescor de sua beleza, antes da
profanação do casamento e da desilusão do adultério, ela pudesse ter colocado
sua vida num coração sólido, confundindo assim a virtude, a ternura, a volúpia
e o dever, jamais tão grande felicidade seria destruída. Mas essa felicidade,
sem dúvida, era uma mentira imaginada pelo desespero dos desejos. Ela conhecia
agora a pequenez das paixões que a arte exagerava".
Madame Bovary é um marco na história da literatura, por
ser considerado o primeiro romance realista. Ao que tudo indica Flaubert não
teria propriamente inventado o enredo nem os personagens, mas sim baseado-se em
fatos e pessoas reais. Na época em que o livro foi escrito os romances eram
considerados indecentes e corruptores, sendo proibidos às mocinhas. Em 1857,
foi movido um processo contra o autor, Gustave Flaubert, perante a Sexta Corte
Correcional do Tribunal do Sena. Flaubert foi absolvido pelos juízes, mas não
pelos puritanos, que não lhe perdoariam o tratamento cru do tema: Adultério.
“O Bovarismo”
O ensaísta Jules de Gaultier propôs
esse termo em dois livros sucessivos: primeiro, em Le bovarysme, la psychologie dans
l’oeuvre de Flaubert (O
bovarismo, a psicologia na obra de Flaubert), de 1892, e em seguida em Le bovarysme, essai sur le pouvoir
d’imaginer (O bovarismo,
ensaio sobre a capacidade de imaginar), de 1902: “Emma personificou essa doença
original da alma humana, para a qual seu nome pode servir de rótulo, se
entendermos por ‘bovarismo’ a faculdade que faz o ser humano conceber a si
mesmo de outro modo que não aquele que é na verdade”. Ou seja, o bovarismo
consiste em “se imaginar diferente do que se é”. Essa capacidade remete não a
uma fraqueza de caráter, mas a um funcionamento psicológico, típico da espécie
humana. (fonte UOL, reportagem de Sebastian Dieguez)
Vejam aqui neste trecho como isto fica bem evidenciado
na personagem:
“Não importava. Ela não era feliz, jamais o fora. De onde
vinha então aquela insuficiência em sua vida, aquela podridão instantânea das
coisas em que ela tocava? Mas se havia em algum lugar um ser forte e belo, uma
natureza valorosa, cheia ao mesmo tempo de entusiasmo e de refinamento, um
coração de poeta sob a forma de anjo, lira com cordas de bronze tocando no céu
epitalâmios elegíacos, por que, por acaso, não haveria de encontrar? Oh! Que
impossibilidade! Nada, aliás, valia o desgosto de uma busca; tudo era mentira!
Cada sorriso escondia um bocejo de aborrecimento; cada alegria, uma maldição;
cada prazer, um desgosto; e os melhores beijos não deixavam nos lábios senão um
desejo irrealizável de uma volúpia maior”.
Abraço
Jade
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