Mircea Eliade
Editora Tordesilhas
Ano do lançamento 1936.
No ano de 2012 o livro
finalmente aporta no Brasil, numa edição capa dura, papel couche e formato 18,8
x 27,4 cm. Traduzido direto do Romeno para o português, por Fernando Kablin e
com ilustrações de Santiago Caruso.
O Autor do livro, mais
conhecido como historiador das religiões, nasceu em Bucareste, Romênia, no ano
de 1907 e faleceu em 1986, em Chicago, Estados Unidos. Formado em filosofia
pela Universidade de Bucareste, onde lecionou, foi professore em diversas
universidades europeias até a Segunda Guerra Mundial, terminando por se radicar
nos Estados Unidos, onde deu aulas na Universidade de Chicago. Escreveu 37
obras ao todo, entre ensaios, romance e teatro.
Por ocasião de sua publicação Senhorita
Christina causou alvoroço na sociedade, por ser considerado pornográfico para
os padrões da época, o que retardou sua divulgação pelo mundo afora. Nos dias
de hoje, poucos ficarão chocados com algumas cenas mais sensuais e picantes do
livro. É interessante ver que apesar dos personagens mais clássicos do
vampirismo serem normalmente masculinos, o autor decidiu dar este destaque em
sua obra a uma mulher.

Conforme Sorin Alexandrescu (sobrinho de Mircea Eliade
e responsável pelo POSFÁCIO do livro) "Senhorita Christina está entre as obras situadas na
margem ou nas fissuras da realidade, onde o imaginário ou o mito perturba seus
contornos".
Confesso que eu sempre me
senti atraída por estórias de vampiros, o que provavelmente tenha se iniciado
na infância, com filmes clássicos como Nosferatu e Conde Drácula (ambos inspirados
no famoso livro “Drácula” de Bram Stoker). O tema é recorrente no cinema e com
o tempo ganhou atenção especial do público jovem no mundo dos livros. Alguns
dos filmes mais marcantes na minha adolescência foram Drácula de Bram Stoker e
Entrevista com o Vampiro cujos livros que lhes serviram de inspiração vim a ler
posteriormente. Desde então os “vampiros” já sofreram muitas mudanças e
adaptações, mas francamente, vampiro não tem como ser “bonzinho” não é mesmo?
Afinal, não existiria o eterno desafio feminino de redimir uma alma masculina
perdida.
Mas vamos ao livro...
A trama de desencadeia num
casarão esquecido na planície do Danúbio, onde moram Dona Moscu e suas duas
filhas. Sanda, uma jovem mulher de vinte anos e Simina, uma menina
diabolicamente adulta para seus 9 anos, cuja beleza tão perfeita beirava a
artificialidade, mas não era o principal ingrediente que detinha a atenção dos
adultos a sua volta. Sua astúcia e modos impertinentes conseguiam intimidar até
mesmo os homens. Dona Moscu estava dando hospedagem para, Ígor, um jovem
artista e pintor que em detrimento do seu trabalho, estava empenhado na tarefa
de seduzir a doce e reservada Sanda. Alguns dias depois, com a chegada de um
segundo hóspede, o arqueólogo e professor Nazarie, Ígor ganha companhia para preencher
as horas de insônia com longas conversas regadas com algumas doses de conhaque,
onde ambos falam sobre certas estranhices no modo de agir de Dona Moscu. A senhora
lhes parece cansada e até mesmo doente no seu comportamento perturbadoramente abstraído.
À medida que os dias passam, dona Moscu e Simina se mostram notadamente
obcecadas pela falecida irmã de Dona Moscu, Senhorita Christina. Cuja morte, os
dois vem a descobrir depois, foi a consequência de um comportamento devasso,
que culminou no seu assassinato por um amante enciumado. Durante a estada na
fazenda, os dois homens perdem gradativamente a serenidade de espírito, ao
serem acometidos por aparições em sonhos e fora deles, o que piora diante do
modo de portar-se cada vez mais atípico de suas anfitriãs. Vai se tornando mais
difícil discernir a realidade do onírico, principalmente para Ígor, que se vê
corrompido pela sedução de uma mulher já morta a aproximadamente 30 anos e cujo
perfume de violeta deixa um rastro insistente no quarto, mesmo na presença da
luz matutina. Os sonhos ganham um novo sentido naquele lugar isolado e quase
morto, como um universo à parte. Enquanto Ígor e Nazirre tentam compreender o
que está havendo, tudo no cotidiano da fazenda parece estar se deteriorando
juntamente com a saúde da filha mais velha de dona Moscu. Os animais estão sumindo, em contrapartida as
aparições se tornam cada vez mais presentes e palpáveis, confundindo os dois
homens, que lutam para tentar salvar a vida de Sanda e manter a sanidade.
Uma ótima leitura.
Uma ótima leitura.
Trechos
do livro, por ocasião do avistamento do quadro de Senhorita Christina.
“Ígor permanecera longe do quadro, esforçava-se em
compreender de onde brotava, em seu espírito, tanta melancolia e cansaço diante
dessa donzela que o fitava nos olhos, sorrindo-lhe com familiaridade, como se o
houvesse escolhido, é só ele dentre todos os presentes, para falar de sua
infinita solidão. Uma imensa saudade e muita tristeza pairavam nos olhos da
senhorita Chistina. Em vão sorria-lhe com familiaridade, em vão apertava a
sombrinha azul; com uma sobrancelha sorrateiramente erguida, ela o convidava a
rir do chapéu demasiado grande e ornamentado, que ela, naturalmente, não
suportava, mas fora obrigada a usar porque assim exigira sua mãe” [...]
“Os olhos da senhorita Christina luziram mais
pérfidos por um instante. Ígor levou a mão à testa. Que estranho cheiro naquele
aposento. Não teria sido o quarto dela? Com o rabo do olho, mirou a outra
parede. Embora dona Moscu lhe houvesse dito que era um salão, encontrava-se
ali, no canto, um imenso leito, branco, com baldaquim. Ergueu mais uma vez o
olhar para o retrato. Senhorita Christina acompanhava-lhe os movimentos todos.
Ígor era capaz de ler muito bem os olhos; ela o vira notando a cama e não
enrubesceu; pelo contrário, continuava fitando-o firme, de certo modo
desafiadora. “Sim, este é o meu quarto de donzela e aquela é a minha cama, meu
leito virginal”- assim pareciam-lhe falar os olhos da senhorita Christina”.
“Um cheiro estranho pairava no aposento; não de
morto, nem de flores funerárias, mas de juventude interrompida e conservada
ali, entre quatro paredes”.
Abraço
Jade